Microbiota, eixo intestino-cérebro e saúde mental

10 de Março de 2022

O ser humano é um superorganismo. A parte principal do superorganismo é a microbiota intestinal, que representa mais de 90% do total de genes e número total de células no corpo humano. Esses microrganismos coexistem com os humanos há milhões de anos e desempenham um papel vital na maturação e função da maioria dos órgãos humanos. A microbiota é uma parte crucial do nosso organismo situada no intestino e se comunica com o cérebro via o eixo microbiota-intestino-cérebro. Ela influencia vários processos do corpo e fenômenos mentais e, desde a modernização, vem sendo continuamente alterada devido à mudanças dramáticas na dieta, estilo de vida e medicação excessiva. O consumo de alimentos frescos e tradicionais diminuiu significativamente, enquanto a proporção de alimentos processados e produzidos industrialmente (com corantes, conservantes e químicos) aumentou muito. As pessoas estão mais sedentárias devido aos novos formatos de trabalho e meios de deslocamento, assim como estressadas e ansiosas. A qualidade e a quantidade de horas de sono também reduziu. 

As pessoas estão mais sedentárias devido aos novos formatos de trabalho e meios de deslocamento
As pessoas estão mais sedentárias devido aos novos formatos de trabalho e meios de deslocamento

Essas alterações acompanharam a transformação dos padrões de doenças na sociedade moderna, estando envolvida na fisiopatologia de inúmeras doenças mentais e neurológicas, tais como: ansiedade, depressão, transtorno bipolar, disfunções no comportamento alimentar, déficit de atenção e hiperatividade, Alzheimer e Parkinson, por exemplo. O intestino é o maior órgão digestivo, órgão imunológico e órgão endócrino do corpo humano, e também possui um sistema nervoso que é relativamente independente do cérebro. O eixo intestino-cérebro não apenas completa sua função local, mas também regula o comportamento humano e a cognição, semelhante ao cérebro. 

 

Você é daqueles que acredita que a genética é determinante?

Dietas ricas em gordura, em carboidratos refinados e repletas de açúcar, perturbam a microbiota inte
Dietas ricas em gordura, em carboidratos refinados e repletas de açúcar, perturbam a microbiota inte

Pois saiba que o crescimento e o desenvolvimento do ser humano não é modulado apenas por seus próprios genes, mas também pela influência da microbiota. Ou seja, se a saúde da sua microbiota é correspondente aos seus hábitos de vida, está na sua mão promover saúde ou doença. Cada vez mais estudos apontam que o nosso estilo de vida é mais determinante do que a própria genética nesse sentido. Você até pode ter uma predisposição a determinada doença, mas através do seu estilo de vida (alimentação, exercício físico, manejo emocional e qualidade do sono) pode não manifestar a doença. 


Promover uma microbiota adequada ajuda a garantir uma vida humana mais saudável e feliz. Quando ela é pouco saudável (através de hábitos de consumo e de vida ruins) a disfunção pode aparecer no sistema digestivo, no sistema imunológico (doenças autoimunes), sistema endócrino, sistema nervoso e até mesmo refletir em nossas emoções, pensamentos, comportamentos, capacidade de aprendizagem e memória. 


A alimentação e o estilo de vida saudável impactam diretamente na qualidade da microbiota intestinal, que melhora suas funções e sua capacidade de absorção dos nutrientes, melhorando a saúde cerebral e mental e atuando ativamente na prevenção de doenças relacionadas no futuro. Dietas ricas em gordura, em carboidratos refinados e repletas de açúcar, perturbam a microbiota intestinal; enquanto fibras encontradas em grãos integrais, frutas e vegetais são a principal fonte de energia para as bactérias intestinais e, portanto, são essenciais para manter a saúde humana.

 

Estresse e seu efeito na microbiota

uma dieta pouco saudável danifica a barreira intestinal
uma dieta pouco saudável danifica a barreira intestinal

A psicologia do intestino-cérebro e a psiquiatria nutricional são disciplinas que estudam a relação entre o eixo intestino-cérebro e a mente. A microbiota intestinal é afetada pelo estresse que, em excesso, não apenas ativa os sistemas neuroendócrino, imunológico e sistemas nervosos, mas também prejudica o humor e perturba as funções intestinais. A amígdala, que desempenha um papel crucial nos estados de humor, nos comportamentos e na regulação emocional, é notavelmente impactada pela qualidade da microbiota. Quando saudável ajuda no gerenciamento do estresse; quando não, reduz a resistência e resiliência e aumenta a suscetibilidade a desenvolver mais estresse e ansiedade. 

 

O corpo humano tem duas barreiras principais - a barreira intestinal e a barreira hematoencefálica. A barreira intestinal regula o fluxo de nutrientes e moléculas sinalizadoras no corpo e previne a entrada de microorganismos, resíduos de alimentos e substâncias nocivas; a outra controla a entrada e saída de substâncias no sistema circulatório. Portanto, manter a integridade das barreiras é fundamental para a saúde. A microbiota intestinal regula o desenvolvimento e a função dessas barreiras. Muitos fatores, como estresse, uso de álcool e dieta pouco saudável, danificam e provocam aberturas na barreira intestinal, aumentando sua permeabilidade e permitindo a passagem de microorganismos nocivos para o corpo e o cérebro, que antes não podiam fazê-lo. A isso se denomina síndrome do intestino permeável, que contribui para muitas doenças inflamatórias, transtornos mentais e doenças neurológicas. 

 

Em conclusão, a mente e o comportamento humanos não são apenas regulados pelo cérebro, mas provavelmente também são afetados pelo que ocorre no eixo intestino-cérebro. Fatores que perturbam a microbiota intestinal, por consequência, também afetam o cérebro e a mente simultaneamente. O eixo microbiota-intestino-cérebro é uma rede de comunicação de informação bidirecional. O cérebro governa outros órgãos e regula a sobrevivência e proliferação da microbiota, enquanto a microbiota afeta o cérebro e o comportamento por meio de vias neuronais, endócrinas e imunológicas. As mudanças emocionais, comportamentais e cerebrais sob estresse afetam a microbiota. 

 

Dito tudo isso, como então promover uma microbiota resistente e saudável e, consequentemente, uma mente e um cérebro mais saudável?

É possível promover uma microbiota saudável, melhorar a função do eixo microbiota-intestino-cérebro e promover a saúde e o bem-estar através da mudança de estilo de vida, nomeadamente, a partir da qualidade da sua dieta (para induzir a proliferação de microrganismos benéficos) e do gerenciamento de suas emoções e do estresse. Leia mais sobre o manejo do estresse aqui: À beira de um ataque de nervos! Guia para lidar com o estresse (link). 

 

Dietas ricas em prebióticos (cebola, alho, alcachofra, cereais, aspargos, beterraba, banana); probióticos e alimentos fermentados (iogurte, kefir); fibras alimentares (grãos integrais, frutas e legumes) e ácidos graxos essenciais (fontes de ômegas 3 e 6 como peixes), a dieta mediterrânea e a dieta japonesa, facilitam a proliferação de microorganismos benéficos e melhoram a saúde e o bem-estar. A alimentação saudável promove a boa função do eixo microbiota-intestino-cérebro e leva a melhorias na saúde e bem-estar; enquanto dietas não saudáveis, ricas em gordura e carboidratos refinados prejudicam o humor e a saúde cerebral. 

 

A psicologia nutricional postula que a mente e o comportamento estão intimamente relacionados à microbiota intestinal. A alimentação é o fator mais influente para a microbiota intestinal, exercendo sua influência ao longo de toda a vida. Recentemente, os estudos começaram a dar mais atenção à relação entre qualidade da dieta e doença mental. Seres humanos não comem apenas um tipo de alimento, o déficit de um alimento pode ter um efeito tão significativo quanto o excesso de outro alimento. 


Leia também: Alimentos amigos da mente e À beira de um ataque de nervos! Guia para lidar com o estresse. 


Referência: Liang Shan, Wu Xiaoli, Jin Feng. Gut-Brain Psychology: Rethinking Psychology From the Microbiota–Gut–Brain Axis. Frontiers in Integrative Neuroscience, v. 12, 2018. DOI=10.3389/fnint.2018.00033  

 

 

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